Segundo pesquisa do Grupo Gay da Bahia (GGB), Sergipe aparece em décimo lugar no ranking do número absoluto de mortos dos Estados de todo o Brasil.
Em 2013, o Grupo Gay da Bahia (GGB), uma das ONGs que realizam levantamento de informações sobre assassinatos LGBTs no Brasil, divulgou um relatório indicando que o número absoluto de mortes no segmento em Sergipe foi de 2,73 para cada milhão de habitantes, se tornando, na estatística, o décimo maior entre todos os Estados brasileiros. Exclusivamente tratando de pessoas transexuais, dados da ONG europeia Transgender Europe (TGEU) revelam que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre 2008 e 2014, foram cerca de 600 assassinatos registrados.
Enquanto pessoas que não possuem compatibilidade e identificação com o gênero que nasceram, transexuais podem ser do gênero masculino ou feminino. Uma mulher transexual é aquela que nasce com a genitália masculina, porém se identifica como mulher, requerendo, portanto, o direito de ser tratada como tal. Da mesma forma, o homem transexual é alguém nascido com a genitália feminina, mas que se percebe como homem, reivindicando o direito de assim ser reconhecido.
Para Bruna Nunes, transexual aracajuana, a falta de conhecimento acaba, por vezes, sendo um dos fatores culminantes do estigma social que o gênero carrega. “A transexualidade não é algo normal na cabeça de algumas pessoas. Muitas vezes, nos olham com ar de que não entendem, de curiosidade. Eu entendo isso como falta de informação, o que acaba gerando o preconceito. Então, se você chegar perto da pessoa e explicar numa boa, ela não vai lhe tratar mal. Pelo menos no meu caso,quando vejo que as pessoas estão dispostas a entender, procuro explicar”, diz Bruna, que, aos 18 anos, precisou trancar a faculdade de gastronomia devido a dificuldades financeiras.
Bruna trabalha como garota de programa, estando sujeita a todos os perigos decorrentes da atividade. “Já tentaram me agredir e pegar a força. Como eu trabalho na noite, algumas situações acontecem. Uma vez um indivíduo pegou um pedaço de pau para me agredir por eu não ceder ao assédio dele, e eu tive que correr. Outra vez, voltando de uma festa pela Av. Osvaldo Aranha, um homem me abordou dentro de um carro me oferecendo carona. Eu disse que não queria e entrei em uma determinada rua, onde ele entrou e tentou me seguir, querendo me pegar a força. Fora as pessoas que me hostilizam, chamando de ‘viadinho’, ‘traveco’, que eu tenho um pinto e não uma vagina, entre outras ofensas ”, contou.
Bruna Nunes - Arquivo Pessoal |
Em Sergipe, as
instituições governamentais específicas para registrar e acompanhar
crimes contra vítimas da violência transgênero são a Delegacia Especial de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) e o Centro de Combate à
Homofobia (CCH), órgão membro da Secretaria de Segurança Pública
(SSP/SE). Quando um transexual é agredido ou tem os seus direitos
violados, é fundamental que a pessoa se dirija até a delegacia a fim de fazer uma ocorrência do fato, para que posteriormente seja investigado e dada a devida punição ao agressor.Segundo a DAGV, após registrar o
ocorrido, a vítima pode ser encaminhada ao CCH – dependendo da gravidade
do caso e se houver necessidade, onde lá é recebida por uma equipe
multidisciplinar composta por psicólogos, advogados e assistentes
sociais que prestam um trabalho de acolhimento. .
Devido à população LGBT ainda não possuir um Estatuto ou Conselho de Direitos atuantes como os outros grupos vulneráveis do Estado, é importante ressaltar que não existe leis ou políticas públicas aplicadas especialmente aos transexuais. Em contato com a Coordenadoria de Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Mulher, da Inclusão e Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh) - no momento sem representante para a Coordenação do Núcleo de Políticas LGBT, foi informado que já se encontra em vias de criação para 2017 a criação de um Conselho de Direitos voltado á população LGBT do Estado. Segundo a Coordenadoria, o Conselho servirá de instrumento para dar uma maior visibilidade aos problemas enfrentados por essa camada da população.
Ao que diz respeito a prevenção da violência, o Centro de combate a Homofobia realiza um trabalho de conscientização que se estende por todos os municípios de Sergipe. Segundo o órgão, além do atendimento prestado, a equipe procura levar informações por meio de ações e palestras até universidades, escolas e empresas, com o objetivo de despertar a compreensão, prevenir a violência e sanar o preconceito. O Centro de Combate à Homofobia se localiza na rua Campos, nº 82, bairro São José. O funcionamento do órgão vai das 07:00 às 13:00 horas. O telefone para contato é (79) 3213-7941.
Astra
Instituição que luta há mais de 10 anos em favor da causa LGBT, a Associação de Travestis e Transgêneros de Aracaju (Astra) é um órgão de utilidade pública, reconhecido pela Lei Estadual nº. 5.198 de 09 de julho de 2006, que atua na promoção da cidadania para esta comunidade no combate a qualquer forma de discriminação e preconceito. Segundo a
presidente da Astra, Thatiane Araújo, desde 2002, o órgão tem desenvolvido ações
de saúde em 13 municípios de Sergipe com maiores índices de infecção
por HIV e violação
aos direitos humanos. A ONG também promove, anualmente, a
Parada LGBT, com o objetivo de conscientizar a sociedade através da
informação, comunicação e educação, dando visibilidade aos gays,
lésbicas, bissexuais e transgêneros de todo o Estado. O órgão se localiza na Travessa Porto Alegre II, nº 20, no bairro Siqueira Campos O telefone para contato é (79) 3041-1303. A Astra funciona de segunda a sexta, das 13:30 às 19:00 horas.
Rede Trans Brasil: catalogando dados sobre a violência devido à falta de informação
Além de presidir a Astra, Thatiane também é conselheira do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT (CNCD/LGBT) e preside a Rede Trans Brasil,
um portal criado com o objetivo de monitorar assassinatos, suicídios,
tentativas de homicídio e violações aos direitos humanos que
atingem a comunidade de gênero de todo o país. “Na minha gestão,
conseguimos instituir, pela primeira vez, um canal de catalogação de
assassinatos e violação de transexuais. Na verdade, todo o site foi
criado com o intuito de trabalhar essa questão do assassinato.
Desenvolvemos uma parceria com uma ONG europeia chamada Transgender Europe, que também realiza esse trabalho de catalogação de assassinato e violência contra transexuais no mundo”, disse.
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